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E agora?
Depois da catástrofe, a reconstrução.



Porto Alegre 1941

Porto Alegre 2024
Bom dia,
Passados alguns dias desde o inicio das inundações e deslizamentos por todo estado, com o Guaíba ainda dentro de Porto Alegre, Canoas e região metropolitana, numa tentativa ainda que superficial de retomar tarefas rotineiras, escrevo essa newsletter pensando no cenário que temos e aquele teremos que enfrentar.
São tantas as camadas que envolvem essa catástrofe que só folhando-as para entender o que está acontecendo, porquê está acontecendo e como sair dela.
A primeira camada é geográfica, descobrimos, vejam só, que o Guaíba que hora é rio, hora é lago, recebe águas de 4 outros rios do estado e agora, enquanto lago, esvazia lentamente em direção a Lagoa dos Patos que na verdade é uma Laguna que desemboca no oceano.
Agora querem abrir a “boca” da Laguna dos Patos para que água escoe mais rápido, mas os incautos não percebem que a mesma “boca” que permite a saída das águas doces, também permite a entrada da água salgada, é preciso projeto e pesquisa para uma obra desse porte.
A segunda camada é demográfica e de planejamento urbano, sabemos que desde o inicio da civilização, quando o homem foi domesticado pelo trigo e deixou de ser apenas coletor, caçador e nômade, que as margens de rios e lagos, foram ocupadas, por provimento de água, alimento e transporte, o problema está em ocupar áreas alagadiças ou pantanosas, áreas que o rio ocupa quando em épocas de cheias ou grandes quantidades de chuva, sem a devida proteção e mitigação dos danos.

Leiro, enchente, inundação e céu cinza como essa folha de papel
A terceira camada é climática, não vou entrar no mérito sobre a culpa do homem ou não, mas o fato é que existem mudanças climáticas, o estado do Rio Grande do Sul tem sofrido com enchentes e estiagens, hora é o El Niño, hora é La Niña. A impressão que tenho é que mesmo que o homem pare com tudo e volte a viver como homem das cavernas, ainda assim as mudanças climáticas aconteceriam, então será preciso adaptação aos novos tempos.
A quarta camada é projeto e prevenção, considerando que não da para mudar a geografia do estado e as mudanças climáticas vieram para ficar, será preciso projetos de infraestrutura para que as cidades que não foram totalmente destruídas possam estar minimamente seguras.
A quinta camada é de gestão e manutenção, após a grande enchente de 1941, quase 30 anos depois, no final da década de 60 um sistema contra enchentes foi construído para proteger Porto Alegre das águas do Guaíba, composto por diques, comportas e casa de bombas, esse sistema foi projetado para conter o Guaíba até a cota 6m, pois bem, estamos dentro d’água com cota em 5,35m, o que aconteceu? As comportas vazaram e cederam, as casas de bombas falharam e o Guaíba tomou seu espaço.
A sexta e última camada diz respeito as pessoas, não as que perderam tudo, mas aquelas que tem obrigação de olhar para cidades, de conduzir municípios, estados e o país para o futuro, vereadores, prefeitos, deputados, senadores, governadores e presidente.

Tem vereador em Caxias do Sul que acha que remover árvores de encostas vai impedir deslizamentos, e outro de Garibaldi que diz que só tem deslizamento onde tem árvores. Esses legisladores, legitimamente eleitos, não percebem que sem árvores, essas encostas viriam abaixo com 20mm de chuva.
O problema não está na vegetação.
O povo, pelo povo!
O estado, pelo povo!
Não! É o Estado, mais o Povo, pelo Povo.
Unindo as esferas, a pública e a privada é que vamos sair dessa.
Oque vem por ai?
Muito trabalho e disposição a um custo altíssimo.
Vou me ater a minha área de atuação que é arquitetura e urbanismo.
Recentemente descobrimos o conceito de cidade esponja, em um primeiro momento parece algo novo, quando na verdade se trata apenas de deixar as faixas alagadiças e pantanosas como áreas de escape para rios e lagos, a inovação está na aplicação e uso do conceito.
Falando em reconstrução, serão necessários todos os sistemas construtivos possíveis, sem preconceito, o país não tem capacidade instalada para reconstrução apenas de forma industrializada.
Será preciso inteligência multiconstrutiva ou seja utilizar materiais e sistemas construtivos tirando proveito das suas características.
Por exemplo, os sistemas industrializados não podem ficar submersos, resistem a água e umidade, mas não dessa forma, então, se usarmos na base da construção blocos de concreto elevando-a do solo, a parte superior, de permanência prolongada, poderia ser industrializada e dessa forma tirar proveito das vantagens de ambos sistemas.
Outro exemplo são módulos com sanitários, cozinha e áreas de serviço construídos de forma industrializada e o restante da habitação construído da forma mais fácil e eficiente para o usuário.
As alternativas existem e são muitas.
Sempre que precisar, estou a disposição para te ajudar a construir melhor e mais rápido.
Envie email para juliano@fbrep.com.br será uma satisfação conhecê-lo(a)
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